Dormir bem é muito mais do que fechar os olhos. É um processo ativo em que o cérebro consolida memórias, regula o humor e restaura diversas funções físicas e mentais. Com o ritmo acelerado da vida moderna, longas jornadas de trabalho, telas por todos os lados e preocupações constantes, acabamos reduzindo tanto a quantidade quanto a qualidade do nosso sono, ficando expostos a um estado contínuo de estresse físico e emocional.
Quando conseguimos descansar o suficiente, nosso corpo não apenas recarrega energia, mas também fortalece a resiliência emocional. Ficamos mais capazes de processar experiências difíceis, manter a estabilidade do humor e reagir com menos impulsividade diante dos problemas do dia a dia. Já a falta de sono está associada à irritabilidade, maior impulsividade e ao aumento de sintomas ansiosos ou até depressivos. Além disso, compromete funções cognitivas essenciais, como atenção e memória, elevando inclusive o risco de acidentes.
A relação entre sono e ansiedade é especialmente próxima. De um lado, a mente agitada e os pensamentos intrusivos podem atrasar o início do sono ou causar múltiplos despertares durante a noite. De outro, a privação prolongada de sono amplifica a tendência a imaginar perigos e catástrofes, alimentando um ciclo em que insônia e ansiedade se retroalimentam.

Entre as ferramentas disponíveis para melhorar nossos hábitos de sono estão os métodos psicológicos, como a Terapia Cognitivo-Comportamental para Insônia (TCC-I), que atua sobre crenças e comportamentos relacionados ao descanso, além de práticas de relaxamento que ajudam a induzir um estado de calma antes de dormir. Tanto a insônia crônica quanto os episódios de hipersonia aumentam o risco de quadros depressivos e, por sua vez, os sintomas da depressão também afetam negativamente a qualidade e a duração do sono. O consumo frequente de álcool, nicotina e outras substâncias — muitas vezes utilizadas como forma de “ajudar” a relaxar e dormir — pode, na verdade, piorar as alterações do sono e agravar de forma significativa o humor e a saúde mental.
Para alcançar um descanso ideal e proteger sua saúde, é essencial adotar uma boa “higiene do sono”. Isso inclui deitar-se e levantar-se no mesmo horário todos os dias, inclusive nos fins de semana. Também é importante evitar ou reduzir o uso de telas e estimulantes (como café, álcool e tabaco) nas horas que antecedem o sono. Vale ainda transformar o quarto em um verdadeiro refúgio: escuro, silencioso, arejado e decorado com elementos que transmitam calma e conforto.
Durante o dia, reserve momentos de relaxamento e atividades prazerosas que ajudem a aliviar a tensão acumulada — uma conversa leve, a leitura de algumas páginas de um livro esquecido, a prática de algum hobby manual, entre outros. A exposição à luz natural pela manhã e a prática regular de atividade física (evitando esforços intensos próximo à noite) também contribuem para sincronizar o relógio biológico e promover um sono mais profundo e restaurador. Manter uma rotina regular, confiar na capacidade do corpo em recuperar pequenas dívidas de sono e encarar o descanso como algo natural — e não como uma obrigação — ajuda a reduzir a ansiedade associada ao “ter que dormir”.
Se mesmo com esses cuidados as dificuldades persistirem, é sempre recomendável procurar ajuda profissional. No Brasil, a Associação Brasileira do Sono (ABS) disponibiliza um diretório de psicólogos e médicos especializados, facilitando o acesso a um tratamento multidisciplinar que considera tanto os aspectos comportamentais quanto os biológicos do sono.
Investir em um sono de qualidade não só aumenta nossa disposição e criatividade durante o dia, como também atua como um poderoso regulador emocional, reduzindo a ansiedade e fortalecendo nossa capacidade de adaptação. Cada noite bem dormida é uma oportunidade de acordar com mais energia e equilíbrio emocional. Dormir melhor é viver melhor!